“Vou trabalhar 24 horas por dia para fazer o ajuste fiscal que o governador quer”

Entrevista | Ana Carla Abrão Costa

Secretária da Fazenda afirma que mesmo com todas as dificuldades que se anunciam, o Estado pode galgar posição no ranking econômico

Ana Carla Abrão diz confiar no trabalho de seu amigo Joaquim Levy, o novo ministro da Fazenda | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
“A capacidade de investimento do Estado está exaurida, mas os ajustes necessários já começaram a ser feitos.” A sentença proferida pela economista Ana Carla Abrão Costa, a nova titular da Secretaria da Fazenda de Goiás, não deixa dúvida de que ela encara com muito realismo as dificuldades que terá de enfrentar.
Mas também fica claro o seu otimismo com as primeiras providências que o governador reeleito Marconi Perillo (PSDB) tomou no início de seu mandato. Caberá a ela resguardar as chaves do Tesouro Estadual, reduzindo custos e aumentando a arrecadação, para que o tucano cumpra com sucesso sua quarta gestão no Estado.
A indicação de Ana Carla pegou o mundo político goiano de surpresa. Foi mais uma daquelas tacadas de Marconi que fogem do óbvio. E, ao contrário do que alguns podem pensar, o fato de ser filha da senadora tucana Lúcia Vânia e do ex-governador Irapuan Costa Junior não foi preponderante.
A economista tem predicados para o cargo. Ela sai de um posto de destaque em um dos maiores grupos financeiros da América Latina, o Itaú, para dar sua contribuição para Goiás.
“Ao me convidar, o governador Marconi disse que queria uma cabeça técnica para fazer o ajuste, uma gestão fiscal que possibilite entregar Goiás, daqui a quatro anos, para seu sucessor com as contas em dia, com o Estado investindo, com uma bandeira de um Estado moderno e ajustado, do ponto de vista fiscal. Aí eu aceitei o convite”, lembra a economista, que saiu de Goiás há 30 anos.
Ana Carla não minimiza as dificuldades e diz que muito do sucesso de seu trabalho em Goiás depende do que o governo federal está planejando no sentido de corrigir as distorções da política econômica brasileira. Ela confia no trabalho de seu amigo Joaquim Levy, o novo ministro da Fazenda.
“O Brasil vai sofrer este ano, mas Levy é a pessoa certa para a pasta. Felizmente, Goiás vai sofrer menos. O Estado tem crescido acima da média nacional e vamos trabalhar para continuar assim.”
Marcos Nunes Carreiro – Desde sua posse, no dia 2 de janeiro, a sra. dedicou seu tempo a tomar conhecimento da situação financeira do Estado. Como está?
Eu diria que a situação não está muito diferente dos outros Estados. Não é à toa que o governador, antes de seu discurso de posse, sinalizou a necessidade de se fazer um ajuste. A reforma que ele anunciou em novembro e o próprio discurso de austeridade, economia, responsabilidade e corte de gastos, indicavam isso. Então, é uma situação organizada, mas que necessitava de um ajuste importante, senão caminharíamos para situações de descontrole.
 
Cezar Santos – Em relação a números, a sra. já tem uma noção?
Tenho uma boa visão, bastante boa, mas pedi que fizessem várias contas e que várias estimativas fossem recalculadas para que eu tenha mais segurança do ponto de vista de onde ajustar, como ajustar e do tamanho do ajuste. O secretário Thiago Peixoto [Planejamento] e eu montamos um grupo de trabalho com pessoas que já estão dedicadas full time justamente para trabalhar cada linha do orçamento para que tenhamos uma visão absolutamente clara. Porque o orçamento foi feito tendo por base uma conjuntura econômica, um ambiente e uma orientação diferentes.
Por isso estamos refazendo o orçamento, com a participação de cada órgão do governo. Eu falei pessoalmente com cada um dos secretários e presidentes das agências para que eles destacassem uma pessoa para que fizéssemos um orçamento, de fato, fidedigno e a partir daí trabalharmos o ajuste. Ou seja, não tenho dúvidas de que há necessidade do aprofundamento do ajuste, mas a magnitude dele ainda vai sair desse trabalho que deve ser finalizado até o final de janeiro.
Marcos Nunes Carreiro – A sra. tem noção da capacidade de investimento do Estado? Quanto Goiás terá pa­ra investir neste ano e onde deverão ser aplicados esses investimentos?
Do ponto de vista do Tesouro, a capacidade de investimento do Estado está exaurida. Por isso, há a necessidade do ajuste. Eu digo que ajuste não é discurso ou obsessão de economista ortodoxo. Ajuste tem objetivo. É um meio para que a gente consiga justamente recuperar essa capacidade.
Essa é a minha missão e, para isso, precisarei fazer os ajustes, claro, sob a orientação e determinação do governador. Então, quando olhamos para 2015, não existe capacidade de investimento com recursos do Tesouro. O que existe são as vinculações, os empréstimos, isto é, outras fontes para financiar os investimentos, que estão em andamento e serão mantidos.
Marcos Nunes Carreiro – E quais são as áreas prioritárias do governo para realizar os investimentos? Tecno­logia, infraestrutura…
Essa é uma política que sai muito mais da Secretaria de Desenvol­vimento do que, efetivamente, da Fazenda. Meu papel não é determinar a priorização de investimentos e sim sua capacidade. E, a partir das vinculações, dizer quanto temos de disponibilidade.
 
Frederico Vitor – O governo irá fazer enxugamento em quais áreas?
O custeio da máquina é a conta óbvia. Eu acho que houve um primeiro movimento, do ponto de vista da reforma, com a extinção de cargos e demissão de comissionados, mas existe agora uma etapa consequente da própria reforma. Ou seja, precisamos racionalizar essas secretarias que foram fundidas. Então, existe espaço para, por exemplo, redução de aluguel, água, luz, telefone, viagens, entre outros. E isso será feito agora nessa segunda etapa. Na verdade, já está sendo feito. O que faremos agora é quantificar e acelerar isso ao máximo.
 
Cezar Santos – A sra. falou sobre busca de recursos para a realização de investimentos, ou seja, buscar financiamento. Como está a capacidade de endividamento do Estado?
Minha especialidade é crédito, sendo que sempre trabalhei com a questão do endividamento. Eu costumo dizer que se endividar não é ruim, a priori. Ao contrário, crédito é um instrumento para alavancar o consumo e aumentar o bem-estar. Ou seja, há uma série de benefícios vinculados.
Porém, para ter apenas os benefícios e não os custos, é preciso fazer de forma responsável. Tem que caber no bolso e com um custo que faça sentido. É essa a conta que pretendo fazer. Se há recursos, eles cabem na conta do Tesouro e têm um custo que faça sentido, não há porque não buscar o endividamento. Para isso existem o Banco Mundial, BID [Banco Inte­ramericano de Desenvolvimento], organismos multilaterais e mesmo bancos públicos e privados. Vamos bater na porta dessas instituições para conseguir condições favoráveis ao Estado.
Marcos Nunes Carreiro – E como está a capacidade de endividamento do Estado?
Do ponto de vista de volume, ainda temos espaço. A dívida do Estado de Goiás caiu ao longo do tempo, mas existe uma discussão com o próprio Tesouro, e isso vai depender das orientações do ministro [da Fazenda] Joaquim Levy em relação tanto a endividamento adicional com aval do Tesouro quanto ao custo. Não sei qual a política que o ministro Levy e seu novo secretário do Tesouro [Marcelo Saintive] irão adotar.
Houve situações em que os secretários do Tesouro foram muito mais rígidos em relação a custo. E, considerando a situação atual e do país, não imagino que o custo vá para baixo nesse momento. Ao menos os bancos privados não vão buscar oferecer créditos a taxas tão atrativas quanto ofereceram no passado. Assim, ficamos com uma margem mais estreita no que diz respeito de onde buscar esses recursos. E o próprio BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] já indica que não dará tanto acesso a créditos como já deu no passado.
Everaldo Leite – Goiás tem tido sucesso com os incentivos fiscais. Joaquim Levy é desfavorável aos incentivos fiscais. Qual sua posição em relação a isso?
Incentivos e subsídios são algo que o ministro Levy se posiciona contra, mas, como economista de ótima formação, eu tenho certeza que ele tem uma visão semelhante a de qualquer economista bem formado, que é a de que os incentivos e subsídios existem para corrigir distorções e desvantagens comparativas. Então, conceitualmente esses incentivos têm um papel.
O que precisamos avaliar é se as contrapartidas estão equilibradas; e se eles estão indo para os setores e atividades que fazem sentido. É uma questão técnica. De minha parte, não existe nenhum preconceito em relação aos subsídios. Ao contrário, meu conceito é a favor, mas acho que precisamos fazer uma discussão sobre o assunto, pois a própria guerra fiscal chegou a um ponto em que está prejudicando o equilíbrio dos Estados.
Mas essa é uma discussão que deve ser feita considerando as particularidades de cada Estado e também a vontade de convergência dos Estados que abriram mão de seu ICMS ou têm seus programas de incentivo da forma como foi estabelecido. Acho que é uma discussão muito complexa e da qual quero fazer parte, pois entendo da importância dos subsídios para Goiás e como eles foram importantes para o desenvolvimento do Estado nos últimos anos. Mas essa discussão deve ser feita em uma mesa mais fortalecida do que a existente há alguns anos no Confaz [Conselho Nacional de Política Fazendária].
Cezar Santos – A questão é mais ampla, já que a reforma tributária está travada no Congresso Nacional.
O ministro Levy, inclusive, citou isso em seu discurso de posse. Então, imagino que a União vá puxar essa discussão de uma forma que não fez no passado, porque os Estados estão sem receita e a federação também não ganha nada com isso. E acho que o assunto está na pauta do governo federal neste ano e Goiás, pelos interesses do Estado, irá participar da forma mais ativa possível.
Eu estarei lá pessoalmente. Inclusive, estamos cogitando sediar a primeira reunião do Confaz em Goiás, justamente para mostrar nossa intenção de fazer a discussão de forma responsável e, claro, defendendo os interesses do Estado.
Marcos Nunes Carreiro – Em 2014 foi aprovada a renegociação do indexador das dívidas dos Estados e dos municípios. Falta a assinatura da presidente Dilma. Joaquim Levy pretende condicionar essa questão ao fim da guerra fiscal, algo que tem assustado os goianos, visto que os incentivos foram muito benéficos para o desenvolvimento do Estado. Quando a sra. diz que os incentivos precisam ser revistos, de que forma isso deverá acontecer para que não sejamos tão afetados com o fim da guerra fiscal e levando em consideração que o governador Marconi Perillo sempre foi um grande defensor dessa questão?
É uma questão muito complexa e que não vai se resolver do dia para a noite. Por isso, acredito que a União vá exercer o seu papel de liderar essa discussão, pois ela passa por uma questão fiscal importante, do ponto de vista da União, que é a criação dos fundos de compensação.
Então, sem a União na mesa colocando claramente quais são as compensações para aqueles Estados que se beneficiaram dos incentivos no que diz respeito ao desenvolvimento nos últimos anos, essa discussão não caminha. E acho que ela será complexa e longa. O papel da União não é apenas de conciliador, mas também de financiador e de provedor de recursos para que consigamos colocar os fundos de pé.
Marcos Nunes Carreiro – Como está o comportamento do ICMS de Goiás?
A arrecadação vem crescendo de forma contínua, até porque o Estado está crescendo. É claro, à medida que o crescimento desacelera, e as perspectivas são melhores que as da União, a tendência é que a arrecadação não mantenha o ritmo de crescimento apresentado até então. Trabalharei o lado das despesas, como já estou fazendo, mas há uma agenda de crescimento da arrecadação, baseada na eficiência operacional e de fiscalização. Nesse momento não está na mesa o aumento de impostos, embora isso possa acontecer no futuro, mas existe um trabalho de aumento da eficiência da arrecadação.
 
Marcos Nunes Carreiro – E como aumentar a arrecadação sem aumentar os impostos?
Aumentando a base, ou seja, a eficiência da fiscalização. Temos processos, sistemas e uma série de espaços que podemos ocupar no que diz respeito ao operacional da arrecadação.
Existe, por exemplo, um programa financiado pelo Banco Mundial, que prevê justamente a modernização das Secretarias da Fazenda. Isso está em Minas Gerais, no Rio de Janeiro. Em Goiás também existe esse projeto, mas ele tem andado muito devagar. Então, irei acompanhar isso mais de perto, exatamente para aumentar essa eficiência. Na iniciativa privada, essas questões já estão muito incorporadas, mas precisamos trazer isso de forma mais eficiente.
Everaldo Leite – Onde pode haver aumento de impostos sem grandes impactos na produção, visto que, atualmente, 75% da arrecadação do Estado vêm de energia, telecomunicações e combustíveis?
É muito difícil aumentar impostos estaduais sem impactar na produção e, por isso, o assunto não está na pauta ainda. Se tivermos que fazer, sabemos que não será a primeira ação, pois o aumento de impostos não resolverá o ajuste. Mas, se tivermos que fazer, vamos avaliar como.
 
Cezar Santos – Na véspera do segundo turno da eleição, ouvi uma pessoa dizer que, se o governador Marconi Perillo vencesse, ele iria cobrar impostos até da venda de galinha na feira. Evidentemente, foi uma contrapropaganda de adversários. Mas pode-se esperar arrocho fiscal a partir deste ano?
A orientação do governador é cla­ra. Temos que cortar despesas e aumentar a arrecadação em termos de eficiência. Estamos começando por cortar despesas.
Não gosto da palavra “arrocho”. O que buscamos é um ajuste, o que significa eficiência e transparência. Não existe nenhuma vontade, e não é esse o meu mandato, de cortar ou aumentar impostos enlouquecidamente. Não é esse o receituário que aprendi nos meus livros.
Faremos algo muito responsável e com total transparência para mostrar que nossas ações serão feitas para manter Goiás no caminho do crescimento. Isso pode ser difícil no primeiro momento, do ponto de vista de aceleração? Certamente, sobretudo em uma conjuntura nacional como a que vivemos, com um país em crise e que, esse sim, fará ajustes muito fortes. Então, não passaremos incólumes a isso. Mas a orientação não é de fazer um arrocho.
Everaldo Leite – Atualmente, dez municípios são responsáveis por 65% do Produto Interno Bruto (PIB) goiano. Quer dizer, temos 236 cidades com uma capacidade muito menor. O que o Estado pode pensar em fazer para levar benefícios a esses municípios que ficaram à margem do processo de desenvolvimento?
Nós temos uma política de desenvolvimento regional que estará a cargo do secretário José Eliton (PP), que, pelo que tenho acompanhado, tem feito uma busca por projetos e planejamento a fim de desenhar uma política de desenvolvimento regional.
 
Everaldo Leite – Mas isso terá a participação de todas as secretarias ou ficará a cargo apenas da Secretaria de Desenvolvimento? É necessária uma atuação integrada para que os outros municípios cresçam.
Eu posso responder pela Secretaria da Fazenda. Claro, que estou aqui para contribuir no que eu puder com ideias e nas discussões no âmbito do governo como um todo, mas, no que diz respeito à Fazenda, eu irei fazer aquilo que, no meu mandato, eu possa fazer: ajustar as contas do Estado e permitir que todos os municípios, dos maiores aos menores, possam fazer os seus investimentos em dia.
Só o fato de conseguirmos que os municípios tenham previsibilidade em seus orçamentos e em sua receita, já ajudará na gestão das cidades. Mas as políticas de desenvolvimento regional, de fato, não cabem à Fazenda.
Frederico Vitor – O governador disse que uma de suas metas é fazer com que o Estado suba da 9ª para a 8ª posição no ranking nacional. É possível que isso aconteça em médio prazo?
É possível. Justamente porque Goiás tem crescido mais que a mé­dia nacional e, não tenho dúvida, se fi­zermos nosso dever de casa pelo lado fiscal, realmente manteremos essa taxa de crescimento e podemos até almejar ter um crescimento como tivemos há dois ou três anos. Meu otimismo nesse sentido é muito grande. Goiás está numa trilha diferente do país e, portanto, não podemos não imaginar que conseguiremos galgar uma posição nesse ranking.
 
Cezar Santos – Para este ano a perspectiva está se mostrando mais complicada. Os produtores goianos já estimam uma queda de 15% da safra de soja, que é nosso principal produto de exportação. É um complicador a mais.
Este ano, por motivos que podemos antecipar, fora as incertezas e choques que não imaginaríamos, não será fácil. E não só para Goiás. Não será um ano fácil para o país. Mais uma vez: é melhor estar em um momento de desaceleração, de ajuste, do que estar em um momento ruim. Isso permite que se amorteça a situação. É claro que há choques idiossincráticos que apenas Goiás irá sofrer mais.
Por outro lado, se o câmbio desvalorizar, o agrobusiness terá suas vantagens, pois as exportações aumentarão. Então, é um conjunto de fatores que acontecerão ao mesmo tempo e que o resultado final, possivelmente, será melhor para Goiás do que para outros Estados. Contudo, a situação, definitivamente, é melhor para Goiás.
Marcos Nunes Carreiro – Muito se falou de commodities ao longo da última década, mas atualmente esse mercado tem caído muito e o preço despencado. Goiás ainda tem como seu carro chefe produtos in natura, tendo como sua principal parceira a China, que tem comprado muitas terras na África para produção de grãos. Com isso, com a queda do preço, ainda existe o principal parceiro investindo em produção em outro local. Como avalia essa questão?
Esse é um movimento de mercado que vai sempre ocorrer, e só tem uma resposta para isso: produtividade. Nós temos um agronegócio com uma produtividade absolutamente invejável no ponto de vista mundial. A maior arma contra a competição é sempre produtividade.
Portanto acredito que devemos continuar investindo no agronegócio e em produtividade daí, mais uma vez, tudo remete a uma condição fiscal favorável, que só é possível na medida em que temos as contas em dia. Porque aí há o aumento da confiança do empresário, a capacidade de investimento, a capacidade de endividamento saudável para fazer frente às adversidades, porque elas virão. A China desacelera, ou a China começa a produzir na África, ou alguma outra coisa vai acontecer. Tudo se move e a dinâmica é essa.
Só há uma resposta para competição, que é o aumento de produtividade. Não só de um setor em si, pois não adianta termos um setor produtivo se a logística é insuficiente, se temos outros problemas que de alguma forma vão comer um pouco dessa produtividade que nós já temos. Tudo isso apenas acontece com investimentos. Os investimentos só vêm com confiança, equilíbrio fiscal, ou seja, é uma cadeia.
É um receituário quase óbvio, principalmente para quem acredita nesta cadeia. Meu trabalho é fazer isso no âmbito de Goiás, mas não tenho dúvidas que é esta a orientação nacional. Hoje o discurso do ministro da Fazenda é esse: vamos fazer o Brasil crescer. Vamos manter a competitividade e voltar a ter confiança.
“A desaceleração do setor automobilístico nos preocupa, mesmo porque abrigamos importantes montadoras, como a Hyundai, Mitsubishi e Suzuki” | Foto: Divulgação
Frederico Vitor — Outro setor que tem preocupado é o automobilístico. A Argentina, maior parceira co­mer­cial do País na região e maior compradora dos automóveis brasileiros, passa por uma crise que tem afetado drasticamente esse setor. Goiás, depois dos Estados da região Su­deste e Sul, tem a maior planta industrial metalmecânica do Brasil, ou seja, abriga importantes montadoras (Hyundai, Mitsubishi e Su­zu­ki). Essa questão preocupa o Estado?
Acredito que sim, como está preocupando em nível nacional. Essa é uma indústria importantíssima no ponto de vista da geração de emprego. No momento em que temos uma desaceleração da economia específica nesse setor é óbvio que preocupa e nós temos que ficar atentos para isso. Mais uma vez: nós estamos inseridos num contexto e temos que fazer frente a ele e tentar amortecer o impacto. É um setor que preocupa, principalmente em seu potencial de geração de emprego.
 
“Todos os programas sociais serão mantidos”
Marcos Nunes Carreiro — A sra. citou alguma preocupação em relação a liberação de crédito por parte do governo federal. Como fica o Produzir, um programa forte do governo e que fez o Estado acelerar seu crescimento?
O programa está mantido, os contratos vigoram no longo prazo, e isso faz parte da prioridade do governo. Sob esse ponto de vista tudo se mantém como está.
 
Everaldo Leite — Existe hoje um hiato grande entre demanda do crédito subsidiado para produção e investimento, e a oferta. Hoje o FCO (Fundo Constitucional de Financia­men­to do Centro-Oeste) não consegue acompanhar a demanda. Quan­do vai se aproximando o mês de setembro acabam os recursos e vá­rios empresários ficam aguardando o ano seguinte para ver se conseguem fazer um contrato com o banco. O BNDES financia apenas os grandes. Existe alguma alternativa goiana de aporte de recursos para podermos aumentar esse volume de financiamento? Especialmente agora que se atravessa um momento de crise e os juros têm sido aumentados até mesmo dentro do FCO. Digo isso em homenagem à senadora Lúcia Vânia (PSDB) que conseguiu um aporte de R$ 1 bilhão do governo federal para o Fundo. Há algo elaborado nesse sentido?
Não tem nada elaborado, pois, mais uma vez, hoje, o que a gente precisa, é ajustar as contas para que se consiga preparar uma parte dos recursos do Tesouro para investimento. Aí sim que nós vamos conseguir fazer essas políticas específicas, setoriais, regionais, o que seja. Estou na fase anterior, ou seja, onde vamos cortar para sobrar recursos do Tesouro. Enquanto não resolvermos essa primeira etapa fica muito difícil resolver outras questões. Do ponto de vista do Tesouro não há nenhuma previsibilidade, que dirá então, uma política específica para determinados segmentos empresariais ou setoriais.
 
Marcos Nunes Carreiro — A privatização das rodovias, em relação à infraestrutura, vai melhorar muito a malha viária do Estado. Isso tem impacto em termos de arrecadação do Estado?
Nisso não me aprofundei. Mas entendo que, conceitualmente, nas concessões, nas PPPs, existem uma agenda na qual vamos trabalhar porque isso reverte no ponto de vista de receita na arrecadação. Mas especificamente no que temos hoje não cheguei a me aprofundar.
 
Marcos Nunes Carreiro — Tanto no go­verno federal quanto no estadual uma questão forte são os programas sociais. Os programas sociais goianos estão numa margem aceitável?
Não só isso. Nós vamos fazer um orçamento que chamamos de real, pelo menos ajustado na orientação atual, no qual vamos fazer um orçamento que será levado para uma discussão na Assembleia, que é onde nós vamos fazer os ajustes necessários. A orientação do governador Marconi Perillo é de que os programas sociais sejam mantidos justamente pelo resultado que eles já estão mostrando ao longo destes últimos anos. Definitivamente isso estará incorporado no ajuste que nós vamos fazer no orçamento.
 
Marcos Nunes Carreiro — No ponto de vista econômico é possível fazer com que os programas sociais deixem de ser meramente assistencialistas para se tornarem inclusivos?
Essa é uma discussão econômica muito interessante. Existem especialistas nessa área, como Paes de Barros e Marcelo Neri, que estão debatendo isso. Os programas sociais são inclusivos na medida em que eles são uma ponte que possibilitem que as pessoas se eduquem mais. É por isso que os programas sociais vinculados aos programas de melhoria da qualidade de ensino, educação fundamental e infantil têm uma chance muito maior de deixar de ser assistencialista para de fato termos resultados do ponto de vista de capacitação das pessoas para o mercado de trabalho.
Essa é uma agenda que, não tenho dúvida, o ministro Paes de Barros, que é sumidade nesse tema, terá em Brasília, pois vem trabalhando o tema. A ideia é que a gente pegue um pouco de carona nisso, por haver necessidade. O Estado deve permitir que as pessoas se desenvolvam para que elas consigam viver por conta própria, e não simplesmente prover e desincentivar as pessoas a trabalhar.
Marcos Nunes Carreiro — Até porque um dos grandes gargalos do Brasil ainda é a questão da qualificação da mão de obra. Em Goiás, que se industrializou nos últimos anos, há uma reclamação constante por parte de vários empresários.
Esse é um problema não só em Goiás, mas em todo o Brasil. Aqui é um problema quando está vinculado à indústria, em São Paulo quando está vinculado à tecnologia; trata-se de uma escala. Mas o problema é o mesmo. Isso também está vinculado à qualidade do ensino.
O governador já deixou claro que a educação é prioridade em seu governo. Mais do que isso. Deixou claro que quer ser o governador que vai deixar um legado neste quarto mandato no ponto de vista da educação. Tanto ele quanto eu compartilhamos da mesma ideia de reestruturar a educação.
Fotos: Fernando Leite/Jornal Opção
Everaldo Leite — A sra. pensa em reestruturar a Secretaria da Fazenda? Criar algo para melhorar a eficiência da pasta?
Concentrei-me, primeiramente, nas contas do Estado. O processo de verificação das contas tem coisas que saltam os olhos e é fato que temos que buscar eficiência do ponto de vista de processo. Existe a necessidade de modernização dos processos da Secretaria da Fazenda. Com isso o contribuinte ganha, o Estado ganha e o funcionário ganha. O que posso contar é basicamente com os recursos do Profisco, do Banco Mundial, e terei que destravá-lo para termos resultados.
 
Euler de França Belém — Educação é fundamental e todos os governantes têm o mesmo discurso. O ex-governador do Ceará e ministro da Educação Cid Gomes fez alguma coisa nessa área em seu Estado. O governador Marconi Perillo tem ótimas ideias, mas e os recursos para serem investidos nestes projetos da Educação, que custam caro?
Sim. As vinculações obrigatórias já dão à área de educação um orçamento que é importante.
 
Euler de França Belém — Mas é mais para salários. Não se pode apenas pensar em salários.
Definitivamente não. Mas essa é uma questão que a secretária Raquel Teixeira vai fazer da forma mais competente possível para que possamos conseguir os recursos, que não são tão escassos assim, da forma mais eficiente possível. Essa é uma gestão da secretária Raquel com as orientações do governador.
 
Euler de França Belém — As organizações sociais funcionam na área da saúde. Podem funcionar na área da educação?
Não saberia dizer. É algo inovador; é difícil de olhar e dizer a priori que funciona ou não funciona. Não sei se vamos chamar de OS ou gestão inovadora ou diferente. O que é necessário é que vamos fazer diferente. A busca da secretária Raquel atualmente é neste sentido. Se serão OSs serão OSs, mas tenho certeza de que ninguém vai se aventurar. Não é aventura que o governador quer.
 
Euler de França Belém — O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está fazendo o dever de casa, assim como o Estado. O mercado também faz a sua. Mas se ninguém investir será ruim para todos. O governo está mexendo no seguro desemprego e nas pensões. O que a sra. acha disso?
É preciso fazer. Não pelo conceito em si, pois ninguém seria contra o conceito de pensões e de seguro desemprego. Mas sabemos que há fraudes, há erros de processo, há desatualizações, há gordura e questões para se melhorar efetivamente.
 
Euler de França Belém — Corre-se o risco do Estado do bem-estar social europeu, que criou uma população que não trabalha.
Exatamente. Mais do que isso. Nós não temos a arrecadação para manter a situação atual. Esse é o ponto. Nós temos que nos ater no objetivo de tudo, que é de manter as coisas funcionando bem e permitir que o País cresça. Se ficarmos em situação de ineficiência e de desequilíbrio, isso vale para o País e para o Estado, todas as possibilidades se exaurem.
Os agentes econômicos são espertos o suficiente para olhar para isso e dizer que não vai funcionar e que não vai dar certo. É uma mudança da situação atual, uma mudança de status quo. Isso requer coragem, enfrentamento, requer quebrar alguns paradigmas. É preciso quebrá-los senão se tornam insustentáveis.
Olhando para o ponto de vista de nação, todos os pontos de vista de benefícios sociais, todos os programas sociais que começaram no governo Fernando Henrique, que avançaram com Lula e Dilma, corríamos o risco de perdê-los em função de um desiquilíbrio fiscal que pode trazer a inflação de volta. O que adianta ter Bolsa Família para 10 milhões de famílias se a inflação corroer todo o benefício ao longo do mês? A sustentabilidade das conquistas sociais, elas dependem de equilíbrio fiscal.
O Plano Real só deu certo porque houve um ajuste concomitante que colocou o Estado gastando o quanto ele arrecadava. A diferença está na sustentabilidade. A sustentabilidade é igual à casa da gente. Quem pode viver gastando mais do que ganha além de determinado período? Ninguém. O Estado é isso. Os agentes econômicos são espertos e entendem isso, porque é um conceito que se aprende dentro de casa. Na medida em que se vê a deterioração das contas públicas, as coisas vão indo em um ciclo vicioso complicado.
Cezar Santos — Numa análise política, Joaquim Levy assumiu, mas há uma ala do PT contra ele, preferia um petista para implementar a “política do PT”, como se não tivesse sido justamente a política do PT que botou a economia do País em frangalhos. Se as medidas de Levy não começarem a surtir efeito no curto prazo, ele pode ser vítima desta ala do PT, que é estridente e tem força no partido?
Há economistas que estudaram alguns livros e outros estudaram outros livros. Essa ala certamente estudou em outros livros. O ministro Levy vai sofrer pressões, não tenho a menor dúvida. Mas ele sabe disso; aceitou sabendo. Pos­sivelmente, a presidente Dilma também sabe.
 
Cezar Santos — A sra. acha que ela vai respaldá-lo suficientemente?
Eu espero, porque é o melhor para o País. A saída do ministro Levy seria desastrosa. Teríamos uma situação de perda de controle.
“O ministro Joaquim Levy vai sofrer pressões. Mas ele sabe disso e aceitou sabendo disso.
Pos­sivelmente, a presidente Dilma também sabe” | Foto: Antonio Cruz / Agência Brasil

 
Euler de França Belém — E a inflação, as medidas dele vão controlá-la? Ela cai para uma taxa de 4,5%?
Sim, mas vai demorar. Nós vamos viver um 2015 complicado, até por conta dos reajustes represados, como energia e combustíveis, que vão tensionar, mas a convergência para o centro da meta deve vir aí no período de dois anos. O que muda muito agora é um trabalho conjunto entre Fazenda e Banco Central, o que não houve no primeiro mandato da presidente Dilma.
A taxa de juros é um instrumento poderoso para fins de controle de inflação, mas não dá conta sozinha, dá conta até um determinado limite. Na medida em que o governo vai corroendo as contas, não tendo responsabilidade fiscal e perdendo credibilidade, os agentes vão pedindo taxas de juros maiores porque sabem que a inflação estará logo ali na esquina. Agora, com a sintonia entre Banco Central e Fazen­da, a política monetária e fiscal trabalhando no mesmo sentido, não tenho dúvida de que o caminho está traçado, mas vamos pagar o preço dos erros do passado.
Euler de França Belém — Os economistas dizem que um longo ciclo de baixo crescimento cria uma brutal dificuldade de recuperação para a economia. Essas medidas que o governo está tomando possibilitarão que em 2016 a economia cresça um pouco mais?
Acho que cresce pouco mais do que 2015, porque para mim neste ano já está contratado um crescimento baixíssimo. Estou convencida de que se a política que o ministro Levy está colocando no papel for seguida, a gente já tem uma reversão de expectativa no final do ano, vamos vislumbrar cenário e horizonte mais positivos. No meu planejamento mental, imagino que teremos um 2015 difícil, com aumento de desemprego, com inflação ainda alta, baixo índice de crescimento, mas com uma reversão de expectativa, à medida que o caminho for se consolidando.
Isso se dará à medida que se cristalize, que as dúvidas saiam do cenário, se a presidente Dilma continuará ou não bancando o ministro Levy e uma política de austeridade; à medida que isso sai do caminho, a tendência é que se observe, imediatamente, uma reversão de expectativas, pois já percebemos alguns sinais, como a própria escolha que ele tem colocado publicamente. E, à medida que isso se cristalize, conseguiremos observar uma melhora nas expectativas e uma reversão de tendências.
Cezar Santos – Quando acabar a contabilidade criativa, por exemplo, trará confiança no mercado?
Certamente. O grande problema da contabilidade criativa é a falta de transparência.
Quando eu trabalhava como economista, no ano passado, no banco, além das minhas funções de controle de risco, eu participava das comissões econômicas, e o que se observava era que, qualquer número que você olhasse, você diria que não era um número real. Além disso, qualquer economista constatava que o número, necessariamente, seria pior.
Esta incerteza da contabilidade criativa gera uma aversão ao risco ainda maior, bem como a desconfiança; a tendência é, sempre, a retração. Portanto, a falta de transparência que a contabilidade criativa gerou é desastrosa para os próprios agentes, para expectativa, para confiança. Sem contar que os economistas passam mais tempo fazendo contas para saber qual é a realidade daquele número que está ali.
Euler de França Belém – Os intelectuais, como os economistas, saem da província e querem ficar na corte. A sra. atuou no mercado financeiro nacional, é bem-sucedida, e voltou para Goiás. Qual o motivo? O sociólogo norte-americano Russell Ja­coby menciona que os intelectuais públicos prestam um serviço ao desenvolvimento da sociedade. Sua decisão se deu por aí?
Tem vários motivos. Para os economistas já existem vários critérios de seleção. Quem faz economia, geralmente, tem um interesse público. Por mais que a minha decisão, lá atrás, estivesse muito mais ligada ao banco do meu pai e à vontade de dar continuidade ao trabalho dele no banco, o economista tem algum cacoete público. Portanto, esse é o primeiro motivo.
Eu sou economista três vezes. Eu insisti em economia na graduação, mestrado e doutorado. Depois de um tempo no setor privado e já tendo conquistado postos em instituições tão importantes como no Itaú, chegar a ser diretora de risco de crédito é uma realização incrível, eu já estava com vontade de fazer uma mudança de carreira, quando saí do Itaú, em julho. Tanto que me envolvi, inicialmente, no programa de governo de Marina Silva (Rede/PSB). Trabalhei no programa dela, no capítulo de crédito. E, posteriormente, na campanha de Aécio Neves (PSDB). Isso, no ponto de vista de formulação, não do ponto de vista político, efetivamente.
Eu já estava indo para um caminho de buscar algo mais institucional, mais público. Tanto que, se o Aécio tivesse ganhado, o meu caminho natural seria Brasília. Portanto, o convite do governador Marconi me pegou em um momento de realização profissional, em que eu estava revendo as minhas opções profissionais e tinha a alternativa de voltar para banco, para fazer coisas totalmente diferentes. Ainda assim, eu estava com um viés de formulação. Juntou esse momento da minha vida profissional com o fato de ser Goiás e a formação como economista, então a conta foi fácil.
Cezar Santos – Com qual argumento, especificamente, o governador Marconi Perillo lhe convenceu?
Primeiro, o fato de ele querer alguém técnico; alguém que tivesse um currículo que habilitasse fazer o ajuste que ele já havia pensado. Segundo, a minha admiração pelo governador. Em terceiro, talvez o fato de o ministro Levy – estou voltando um pouco na questão do “eu”, mas é que o contexto convergiu para isso. Ser um governo PSDB, o meu momento político, a minha formação acadêmica, o fato de ser Goiás, ou seja, tudo convergiu.
Eu saí do convite já sabendo que iria aceitar. Mas, do ponto de vista da argumentação do governador, foi a vontade de fazer o ajuste e ter alguém técnico para fazê-lo. Eu até disse a ele que eu estava fora de Goiás havia 30 anos e que eu não conhecia as pessoas mais. Ele me respondeu que queria uma cabeça técnica e que eu estava recebendo o convite em função do meu currículo. Disse-me, ainda, que queria fazer uma gestão fiscal que possibilite entregar Goiás, daqui a quatro anos, para o sucessor com as contas em dia, com o Estado investindo, com uma bandeira de um Estado moderno e ajustado, do ponto de vista fiscal.
Euler de França Belém — O que o economista Pérsio Arida, seu namorado, achou de sua escolha em vir para Goiás?
Ele é conflitado, não queria que eu viesse por questões pessoais, argumentou contra no início. Mas ele entendeu, é um grande apoiador, acha que tenho tudo para dar uma boa contribuição. Depois que viu que eu estava decidida, ele me apoiou.
 
Euler de França Belém – Dizem que Pérsio Arida é brilhante. É mesmo?
É mais até do que as pessoas dizem. É uma cabeça incrível, muito acima de qualquer pessoa que eu já tenha conhecido na minha vida.
 
Euler de França Belém – Ele não pensa em escrever um livro de memórias?
Ele já tem um livro de memória que está em processo. Uma parte foi publicada na revista “Piauí”. É um livro que reflete a vida dele como ativista de esquerda, quando foi preso, torturado. Muita gente não sabe disso.
 
Cezar Santos – Depois do governo a sra. estará com quatro anos de experiência no Executivo. Pela formação, uma cabeça como a sua no Parlamento, certamente, teria muito a contribuir na formulação de leis. A sra. já pensou nesta possibilidade?
Não, porque a minha família já tem um conjunto de pessoas na área. A cota da família Abrão Costa já está totalmente preenchida, eu não contribuirei para que aumente.
 
Euler de França Belém – A sua formação de economista é em que área?
Eu sou formada em Microeco­nomia Bancária, pela USP [Universidade de São Paulo]. Eu sou técnica, não tenho qualquer viés político, portanto, eu vim prestar um trabalho técnico para o Estado de Goiás. Daqui a quatro anos, eu pensarei no que fazer, profissionalmente, mas certamente será algo vinculado à minha formação de economista.
 
Euler de França Belém – Sua dissertação de mestrado e a tese de doutorado foram publicadas?
A tese de doutorado foi publicada pela Febraban [Federação Brasileira de Bancos], porque ganhou prêmio no ano que defendi. São três ensaios, um deles muito teórico, e a ideia seria até publicar fora. O segundo capítulo, que é o spread bancário, foi incorporado nas notas técnicas do Banco Central, porque é a metodologia que se utiliza para decomposição do spread. E o terceiro capítulo, sobre instituições e impacto de lei de falência no mercado de crédito, é um texto mais institucional mesmo, nem é teórico nem aplicado, é quase uma resenha de ideias. Até foi publicado em alguns livros de direito falimentar. Enfim, há frações de minha tese de doutorado publicadas.
Já a minha dissertação, costumo dizer que foi quase uma catarse, um trabalho de elaboração psicológica, porque foi sobre liquidação bancária. Foi logo que o BBC [propriedade de seu pai] foi liquidado. Eu tinha feito os créditos do mestrado, mas não tinha defendido tese, então voltei à academia para isso. Foi muito mais uma elaboração psicológica. Olho para ela e não me reconheço muito ali.
Euler de França Belém – O que a sra. acha das ideias do francês Thomas Piketty? A desigualdade social pode ser combatida com taxação, com imposto?
O conceito, a tese, definitivamente, é muito bom. Mas a aplicabilidade, por exemplo no Brasil, é difícil. Tanto que, quando você verifica os dados que ele utilizou para fazer os trabalhos e os estudos de caso, há contestação. O livro [“O Capital no Século XXI”, publicado no Brasil no ano passado. Na obra, o pesquisador avalia que a desigualdade de renda vem aumentando no mundo] me surpreendeu não só pela tese em si, mas por ser muito bem escrito. É impressionante.
 
“O capitalismo permite a realização das pessoas”
Ana Carla Abrão Costa, secretária da Fazenda, é entrevistada pelos repórteres Marcos Nunes Carreiro, Cezar Santos, Frederico Vitor e Euler de França Belém e pelo economista Everaldo Leite, na redação do Jornal Opção | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
 
Euler de França Belém – Thomas Piketty usa até a literatura, como a de Balzac, para entender a estrutura do funcionamento do capitalismo no século 19.
Tem, ali, uma aula de história do pensamento. Realmente, me surpreendeu. Eu confesso que fui ler com algum preconceito, mas o livro me prendeu. Agora, do ponto de vista da tese e dos dados que ele utiliza para defendê-la, eu não tenho dúvida que ali tenhamos uma inovação no pensamento econômico.
Ainda assim, questiono a aplicabilidade no Brasil – eu imagino que se fôssemos fazer os testes que ele fez, aqui não se manteriam. A realidade é diferente, a nossa estrutura econômica e social é muito distinta. Portanto, a desigualdade, a concentração de renda, que existem aqui, têm uma concepção diferente. É difícil aplicar o que ele prega na realidade brasileira.
Euler de França Belém – Ele fala que é difícil trabalhar no Brasil, pois não tem dados públicos de renda. Isso é uma falta de transparência do nosso país?
Eu não saberia dizer qual é a origem.
 
Euler de França Belém – Nos EUA e na Europa, Thomas Piketty conseguiu dados com facilidade.
Aqui, ele disse que teve dificuldade. Os nossos economistas sociais, que fazem trabalhos de renda, de criminalidade, de educação, têm os microdados do Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE]; há muitos bancos de dados completos, robustos. Mas, não sei, os dados da Receita, de fato, ninguém tem acesso. Embora, mesmo os dados da Rais [Relação Anual de Informações Sociais], de acadêmicos, se tem acesso. Portanto, eu não sei em que porta ele bateu que acabou não conseguindo os dados que queria.
 
Euler de França Belém – O capitalismo é o modo de produção mais revolucionário da história. Pensa-se que o “Manifesto Comunista”, de Karl Marx, é um ataque brutal ao capitalismo. Na verdade, é um elogio ao burguês e ao caráter revolucionário do capitalismo, claro que com o objetivo de criticá-lo e, adiante, substitui-lo. Lênin, ao examinar o capitalismo na Rússia — onde Marx avaliava que a revolução não se daria —, forçou dados para justificar a possibilidade de uma mudança radical. A Revolução Russa ocorreu em 1917, mas em 1991 a estrutura socialista ruiu de vez. Já o capitalismo, com todas as crises, permanece. Por que o capitalismo é tão resistente e tem uma capacidade tão grande de se renovar? O que o torna tão forte, tão desejado?
Eu sou uma microeconomista e existe uma coisa em micro que se chama “desenho de mecanismos”. O capitalismo é uma forma que, se você tem instituições sólidas, regulação bem feita, agentes atuando de uma forma organizada, ele gera o melhor resultado a partir de incentivos corretos.
Por exemplo, eu estou em Goiás para fazer um trabalho e qual meu incentivo? Meu incentivo é uma realização e quase uma satisfação para o que eu me preparei ao longo de 45 anos. Para mim, qual o maior ganho que eu posso ter, trabalhando em Goiás e dando minha contribuição? Uma realização pessoal minha. Portanto, não é financeiro, não é político, não é nada a não ser fazer um bom trabalho para o Estado. É o que maximizará o Estado, a minha utilidade, a minha felicidade. Isso significa que darei o melhor de mim. Trabalharei 24 horas por dia para fazer o melhor que posso dentro dos meus conceitos, dos meus valores, do meu conhecimento.
O capitalismo, você pode extrapolá-lo para tudo. Pois, o desenho de mecanismo é um desenho tal que leva ao incentivo correto. É um incentivo que faz com que na busca da sua satisfação pessoal, você traga algo para sociedade. Por exemplo, na busca do lucro, você gera o máximo de emprego possível. O economista social, que na busca de publicar um paper [trabalho] inovador, busca também a política social que tem maiores resultados, do ponto de vista da desigualdade.
O capitalismo é um sistema que se desenhado bem, com boas instituições, regras, boas leis que sejam cumpridas, a tendência é de motor que segue sozinho. A tendência é um motor que gira o carro, pois cada engrenagem está ali, rodando na mesma direção e o objetivo final vem do conjunto disso tudo. É uma sofisticação do “laissez-faire” [o mercado deve funcionar livremente, sem interferência, apenas com regulamentos suficientes para proteger os direitos de propriedade], mas que depende, basicamente, de um desenho de mecanismo que funcione, que leve as pessoas a buscarem sua realização, através de incentivos corretos.
Euler de França Belém – O Brasil é uma economia forte, chegando perto da Inglaterra. Como o Brasil pode se aproximar dos EUA, da China, da Alemanha e do Japão, de forma mais rápida?
Existe uma agenda importante. Uma agenda de abertura, de fortalecimento das instituições. Quando nós olhamos o Brasil antes e depois de 1990, é impressionante falar em produtividade, em crescimento do PIB, do mercado de crédito, aumento do bem-estar, de toda uma classe média, de uma classe C. Isso tudo veio como consequência de um dever de casa muito bem feito, que envolveu abertura, que envolveu instituições mais fortes, agências reguladoras, privatizações, fortalecimento de mercado, redução de conflitos.
Portanto, num intervalo de dez anos, a partir de 2005, houve um conjunto de mudanças institucionais que representaram um avanço enorme. Não é a toa que vivemos de 2003 até 2010 –– tirando a crise de 2008, que deu um baque ––, um período de prosperidade. Afinal, houve uma agenda de abertura comercial macro, muito importante, estabilização, que tirou da agenda a inflação e permitiu que várias outras agendas institucionais microeconômicas fossem destravadas, e avançamos a partir disso. O mercado de crédito, a área que eu estudei mais profundamente, não cresceu em média 15% ou 20% ao ano, durante dez anos, à toa. Existiu uma agenda enorme de trabalho de crédito bancário, de fortalecimento de contratos e garantias, que deu origem àquilo.
Se voltarmos à trilha da agenda de fortalecimento institucional, eu não tenho dúvida que deslancharemos outra vez. Mas é preciso voltar a ela. O Brasil não faz reformas institucionais desde 2003. A última agenda organizada institucional de desenvolvimento foi feita pela Secretaria de Política Econômica, quando o Marcos Lisboa e o Antônio Palocci [então ministro da Fazenda] encamparam isso. E já pegando carona na agenda de abertura, de estabilização que tinha organizado o país. Estávamos indo por um caminho de retrocessos e isso será estancado. Precisamos ter essa maturidade, que o ministro Levy colocou muito bem em seu discurso. Nós temos a maturidade democrática institucional para perceber que estávamos indo por um caminho errado e precisamos corrigir este curso.
Everaldo Leite – Também não falta investimento para que tenhamos melhorias, pois um problema sério é a produtividade baixa e aí, uma das questões é o capital humano, que também impacta o desenvolvimento?
Também é um problema, mas hoje a produtividade é um problema que está muito mais vinculada a esses pequenos assassinatos do ponto de vista institucional, do que da questão de capital humano. É claro que uma coisa puxa a outra, pois à medida que você tem baixa produtividade em um mercado muito aquecido, cria-se um desbalanceamento que não reflete em aumento do salário real, aumento de produtividade, enfim. Tudo se desorganizou e é por isso que a educação é absolutamente fundamental.
Existe uma necessidade clara em aumentar a qualidade da educação no Brasil. E, além disso, toda essa agenda institucional. A educação faz parte. Quando eu falo em agenda institucional, ela tem que abarcar diversas dimensões e a educação é uma delas. Mas, definitivamente, se não tomarmos uma agenda microeconômica como prioridade é difícil não desviarmos do caminho que estava traçado.
O Maílson da Nobrega tem um livro, “O Brasil deu certo”, publicado no começo dos anos 2000, em que faz um balanço muito interessante, que é justamente dessa agenda fortalecendo nossas instituições, nossas bases e que fez com que as coisas dessem certo. Desviamos. Quando algo começa a ter questões como a contabilidade criativa, contratos que não são cumpridos ou desorganizações, como a do setor elétrico, você começa a andar para trás. Mas, eu acredito que foi em bom tempo. Tudo bem, poderíamos não ter passado por isso, mas ainda está em tempo de o curso ser retomado.
Cezar Santos – Quanto à produtividade, que é um gargalo nosso, também conta a questão dada legislação trabalhista, que é arcaica?
Sim. Por isso que é uma agenda microeconômica. A reforma tributária é microeconômica e, ainda assim, muito complexa. Outro dia, conversando com o Pérsio Arida [economista, um dos idealizadores do Plano Real e presidente do Banco Central do Brasil em 1995], estávamos falando sobre o Plano Real, eu disse a ele: “A questão tributária, hoje, é como se fosse a agenda da inflação no final dos anos 1980”. Ela se tornou tão complexa que é uma agenda que toma a atenção de uma série de outras coisas que poderiam estar sendo direcionadas para o campo produtivo.
Hoje, uma empresa que atravessa o Brasil para recolher ICMS, tem que ter um setor de tributação na administração para dar conta de recolher o ICMS certo e, provavelmente, ainda ela será atuada, e isso não por má fé, mas sim por não conseguir. A complexidade tributária é tal que ela também impacta a produtividade, a eficiência. Portanto, é uma agenda importante e tão complexa quanto foi, possivelmente, a do Plano Real.
O Plano Real – e o Pérsio repete isso com propriedade –– se deveu a um pacto que foi feito em torno daquela agenda. Chegou a um limite em que as pessoas não conseguiam viver mais com a inflação e, aí, tinha classe política, a classe econômica, tinha a população que se juntou em torno daquele plano. Do ponto de vista da tributação, também é necessário ter impacto. Os Estados precisam sentar, a União precisa sentar e colocar a reforma tributária na agenda do dia. Mas isso é difícil.
Euler de França Belém – Há quem diga que as privatizações foram “privataria”. Mas o Estado ficou mais barato para sociedade brasileira e deixou o mercado mais eficiente, ele se expandiu, cresceu. As pessoas tinham consórcio de telefone para conseguir um; era preciso entrar em uma fila gigantesca. Hoje se discute que as pessoas querem um celular 4G, mais qualidade, mas todos têm acesso porque ficou mais barato. A sra. discorda do conceito de “privataria” como alguns apregoam em relação às privatizações?
Discordo que foi privataria. Aliás, coloco as privatizações nessa lista de avanços institucionais na década de 90 e que nos colocaram em outro patamar para buscar outros avanços. As privatizações fizeram bem para o País. As pessoas têm acesso à telefonia hoje de uma forma que era impensável antes. E eu vejo cada vez mais: o Estado não é um bom empresário. Ele tem incentivo para ser um bom ente público, para prover os serviços básicos, mas não para ser bom empresário. Os incentivos do Estado empresário são ruins, com empresas inchadas, ineficientes, de pouco resultados. Empresa de Estado é empresa sem dono.
 
Cezar Santos – A Petrobrás é um exemplo…
(risos) Ali o problema é diferente. Ali é uma agenda errada, criminosa.

entrevista

Ana Carla Abrão Costa, secretária da Fazenda, é entrevistada pelos repórteres Marcos Nunes Carreiro, Cezar Santos, Frederico Vitor e Euler de França Belém e pelo economista Everaldo Leite, na redação do Jornal Opção | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

 
Everaldo Leite – Quando a sra. fala em reformas microeconômicas, entendo bem o que é, mas os economistas de outro pensamento parece acreditar em uma política industrial com foco em setores específicos. Até onde esse tipo de política impacta nos interesses do nosso Estado, por exemplo? Por que parece que os Estados são muito afetados negativamente com essa política.
Com certeza, porque o País é afetado negativamente quando se desorganiza a ordem econômica. Incentivos setoriais, política de bolsa empresário, eleição de vencedores, isso desorganiza a ordem. Como o Estado tem capacidade de eleger um setor em detrimento ao outro? Não existe medição possível que diga que tal setor tem de ser incentivado e não aquele outro, ou que esse empresário tem de receber o crédito do BNDES subsidiado, quando ele tem acesso ao banco privado ou ao mercado de capitais para captar pelo custo do risco dele. Então, por ai se começa a desorganizar a ordem econômica de uma forma que todo o País sente, e para de crescer, porque afeta a produtividade. Os Estados estão neste contexto.
Felizmente, pelo que tudo indica, essa agenda está sendo abandonada. Quem está na Secretaria de Política Econômica hoje é um economista de maior grandeza e um microeconomista, com capacidade de fazer um trabalho de primeiríssima numa agenda microeconômica, que começa inclusive no setor elétrico, que foi a maior desorganização e que a gente sente aqui, em Goiás, com a Celg. O setor como um todo está desestruturado, em dificuldade, em função de uma má regulação.
Marcos Nunes Carreiro – A economista italiana Mariana Mazzucato, no livro “Estado Empreendedor”, defende a tese de que o Estado precisa parar de ser a mão invisível, que serve apenas para corrigir as distorções do mercado, para ser a mão mais que invisível, que incentiva a inovação. A sra. concorda?
Euler de França Belém – Ela até elogia o BNDES…

Não conheço o livro e até fiquei curiosa, vou comprá-lo. Não posso me colocar a favor ou contra a tese, por não ter lido o livro. Mas eu não tenho dúvida de que o Estado tem um papel importantíssimo de fomentar e viabilizar a inovação e como investidor também, porque o investimento público tem como contrapartida o investimento privado.
Existe a economia de escala, a necessidade de ter o Estado como um organismo que vá viabilizar uma série de coisas que a inciativa privada sozinha não faria. Há, inclusive, o Estado provedor, o Estado de bem-estar social, que vai permitir que as falhas de mercado sejam corrigidas.
Eu olho o Estado não como empresário, mas possivelmente como empreendedor. O BNDES tem um papel, mas o papel que ele exerceu nos últimos quatro anos é absurdamente maior do que o que deveria ter exercido. Entendo que ele deve ser muito presente, mas com uma função muito específica, justamente de ser o viabilizador de projetos, fomentador do mercado de capitais.
Ele tem um papel aí, mas não o papel que vem exercendo, que está extemporâneo. Há uma série de mecanismos, que infelizmente foram ressuscitados nos últimos anos, que são de um outro Brasil, um Brasil que não tinha crédito, em que os bancos viviam financiando o governo ou viviam no floating inflacionário. Mecanismos que foram criados no passado e que ficaram à parte da agenda de desenvolvimento. O País cresceu, se desenvolveu, fortaleceu-se institucionalmente, houve reflexos disso, mas há mecanismos que ficaram pendurados, como o FGTS, o BNDES da forma como atuou recentemente. É como se não tivéssemos o mercado de capitais, um mercado de crédito que não conseguisse dar conta de financiar grandes empresas. Inverteu-se a lógica, o sentido de causalidade. O BNDES expulsou os bancos privados do financiamento de longo prazo. Porque não dá para competir.
Everaldo Leite – A questão das taxas de juros também não influencia? Temos uma poupança muito baixa, o que acaba não deixando muito espaço para uma taxa de juros menor.
Sim, mas hoje existem empreendimentos, empresas que conseguiriam se financiar de forma rentável no setor privado, a taxas de juros de mercado, mas os bancos não conseguem financiar essas empresas porque o BNDES está lá. É o que chamamos de falling-out em economia, o BNDES expulsou os bancos privados do mercado de financiamento de longo prazo.
Cezar Santos – Mas isso é claramente uma política de governo pondo o foco no BNDES, como forma de influenciar no direcionamento desses recursos para “amigos” que podem retribuir no financiamento de campanhas…
Por isso que eu digo, não sei a tese da economista italiana citada há pouco, mas se ela estiver remetendo a um Estado que dá as bases para que a economia se desenvolva e que atue do ponto de vista social, é esse o Estado que está nos livros que eu li; é o Estado que está no conceito que formei a partir de minha educação como economista. E esse Estado tem regras e cria as condições para que o setor privado possa fazer o seu papel e supre onde o setor privado não faz, como a habitação de baixa renda, os mecanismos de transferência de renda, educação, saúde, segurança pública, etc. O papel do Estado deve ser de base, que alavanque o setor privado e não o contrário, sufocando o setor privado a ponto deste dizer “não tem espaço pra mim aqui, porque o Estado faz tudo”.
Quadro
Fonte: Jornal Opção – Edição 2063

15759 respostas
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    The thruway is loud with the windows down, the radio is blasting and I’m feeling windburned. When I pull in your driveway and turn off the ignition it’s silent. I take a couple slow deep cleansing breaths and calm washes over me allowing the anticipation of what is to come to come forward in my mind. A small smile spreads as I open the car door and step out into the heat reflecting off the driveway. I do a few stretches and grab the small gym bag from the back seat and unzip it before walking up to the door. It opens as I reach up to knock. You’re dressed as requested, loose shorts (no…
    https://telegra.ph/Jackie-Surprise-10-22

  47. barbos183313305
    barbos183313305 says:

    They were either too pushy, making me feel uneasy, and turned off, or not bold enough. Meaning, of course, that at 24, I had never had sex. Not even any more than hand holding and kissing. Pretty lame, I know, but that’s the hand I was dealt. As compensation, I put my energy into work, developing a good career, and always knowing there was something missing. That is, until I met David. We met at a business meeting, at the time, I wasn’t really attracted to him, but later we met again at the hotel bar. He started a conversation which carried over into dinner, and that was all for that night….
    https://telegra.ph/David-my-lover-10-22

  48. Deadlight4735592
    Deadlight4735592 says:

    Or was it a whimper? The morning sun had worked it’s way around to the front of the house, and was shinining directly on Millie’s pussy. “Tommy, have you ever had sex with a girl?, Millie asked. I didn’t answer right away. I needed to be careful, and not say anything about Sis, and I. ” Mmmmm that feels nice and warm down there, but it’s already pretty warm there though. It’s OK Tommy, you can tell me, I wont breath a word to anyone” Millie said after a long pause. I answerd after another long pause. Well I’ve eaten a couple girl’s pussies, and jacked off a lot, a whole lot, and I’ve had…
    https://deadlight4735592.wordpress.com/

  49. Spongology9665557
    Spongology9665557 says:

    Part 1 was all setup(sorry), this is where things heat up a bit…After being half-dazed by chloroform, Stacy the Asian pharmacist is carried out to the parking lot of her store at night, the one holding her in his arms–Duke is his name–resting Stacy’s head against his chest. In spite of the mild fear Stacy feels in her chloroform-induced haze, Duke’s lightly thudding heartbeat subconsciously sets her at ease, and she almost drifts off to sleep in his arms. That is, until one of the other guys searches her pockets for her car keys and unlocks the doors to Stacy’s mini-van. They’re…
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  50. Warchildd9765710
    Warchildd9765710 says:

    We just had a good, easy rapport and she was easy on the eyes. Her name was Lauren and she had two kids and a boyfriend who wasn’t their father. She was a little thicker for having the kids but she also had a decent pair on her chest.We got along well enough that my welcome appointments became every few weeks and the other stylists started joking about our “relationship” and me being her boyfriend. Especially Jen, her friend with pink hair and piercings who worked there. Jen was a little more fit, but she didn’t have Lauren’s titties. She was pale with freckles while Lauren was a little…
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    This story may not be quite as naughty or graphic as my others, but none the less it was a fun experience that I’ll never forget.I did something a little different yesterday. I went and got a massage from a wonderful mature lady. Now, I’ve gotten sensual massages before, and they are indeed great. Very relaxing and good for the body, plus the full release at the end is the icing on the cake. There is a masseuse that lives a few miles from where I work. She’s a certified licensed masseuse, however she also works out of her apartment. I’ve never visited her before, but have just seen her…
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  53. Spagyric9507884
    Spagyric9507884 says:

    Most times Mike joined Bill and Me at the motel on the interstate for an afternoon of intense sex.There was never and pretense about making love, it was always about sex and pleasing whomever you were with. Intense is the best word to describe it. I loved it and by their reactions and their increasing creativity with toys and different positions made each afternoon great fun. I was their fuck toy for their and my pleasure and while I got tons of pleasure from them, I also provided tons of pleasure for them. A slut fuck toy, yes, and they also told me my tits, ass, cunt and mouth were their…
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  54. AttackAttack9945511
    AttackAttack9945511 says:

    Everything in me screamed “Don’t do it.” Everything, but my pussy. He walked over to me and pulled me up, closer to his chest. “I missed you.” He said.”Don’t.” I started trying to pull away.”Are you going to tell me that you don’t miss me?”I shook my head. “You don’t?””I do, but….” I whispered, unable to look in his eyes. “No ‘buts’, I miss you, you miss me. It’s that simple.” Darren lifted my chin and kissed me. I closed my eyes, opening my mouth for his tongue. I bit his bottom lip and grabbed his shirt. I pulled it off and threw it on the bed. I had missed him,…
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  55. KaplYAda5062174
    KaplYAda5062174 says:

    ————————————–Cindy had been working at the Harley dealership for about a year and had not only slept with her boss, Louie, but she had also had sex with another coworker, Cliff as well. One of the other guys there, Bob had witnessed a little bit of Cindy’s depravity after a big open house party where she was taken by both Louie and Cliff, one of the bike mechanics. After that party, Bob seemed to hang out around Cindy a lot more and began to pay her a lot more attention. She would come home from work and tell me how he was flirting with her a lot and she thought he…
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  56. melit7094331
    melit7094331 says:

    It was almost like fucking a different girl.”Oh, fuck!” Dani groaned, already halfway to an orgasm. “I always get so horny this time of the month. I’m glad you don’t mind taking care of me when I’m like this…””Your arousal means your body wants to be pregnant,” Jonathan whispered into her ear. “Why don’t you let this one take? I’ve heard of implants and I know how they work.””It’ll take a month for my body to return to normal,” Dani whispered back. “But I think I’d love to have your child…””Does that mean you love me?” Jonathan teased.Dani bit his ear in reply. “Don’t press…
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  57. frisson1625911
    frisson1625911 says:

    “Show me what you’ve got.” she purred in a slightly smug voice.So proud of herself. At least she was coming out of her shell. Smiling upwards at her, I began by slowly lapping up her slit, testing the waters. At first contact, Molly let out a breath she had seemingly been keeping in and snak down into the couch, clearly already enjoying herself.I pulled my tongue back. “Getting comfy?” I asked her humorously.”Keep going.” she replied with no humor in her voice, eyes closed, her face in that sorrowful expression girls get when you begin the foreplay. Internally chuckling, I resumed,…
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  58. leg2341134
    leg2341134 says:

    “Ah yes,” Kigali agreed, “I know just the one!””Carstairs!” Miss Robinson pleaded, “They are going to rape me!””Rape is illegal,” Kigali reminded the men, “Remember there is a two dollar fine for raping a westerner!””Carstairs!” Miss Robinson pleaded but the men had already piled their rifles into a stack and were gathering round her.We stopped to watch, they circled around her like Hyena hunting a Buffalo until one made a lunge and then another, she fell to the ground with a tribesman at each breast, grasping suckling sucking until her nipples were inches long and two other…
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  59. tommygun4142324
    tommygun4142324 says:

    This was normally a working/drinking man’s tavern and the few females who frequented the establishment tended to favor peroxide and rayon. So I kept my eye on her from the first, getting my mug of Miller from the bartender and slipping off to one side by the jukebox. She was just sipping on what looked like a liquid cocaine and sitting on her stool, wedged in between a mute sailor and a behemoth of a biker with “KC Sons” colors on the back of his oil-spotted denim jacket. They paid her no mind though, too intent on their own imbibitions, so I made note to myself to watch and wait.The…
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  60. hypobole8380039
    hypobole8380039 says:

    Monday Jim left at his usual time and she went upstairs to get ready to run errands.At 9:30 her phone rang see a strange number she hesitated but decided to answer. The phone sprang to life with her on her knees sucking cock, it was a short clip followed by a message, be at front door in ten minutes!Sandi was terrified she had no memory of the event, but the video was her sucking cock that was for sure.The door bell rang there stood Rob and Matt, “hello Sandi I’m Rob and he’s Matt” they pushed past her and walked in. “Which way to the den”? Too stunned to say anything she just pointed….
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  61. castleclimb5846020
    castleclimb5846020 says:

    I lifted it off and put my eye to the hole. Tash’s eye looked back at me. I went back round and told her that I would now leave her to it and told her to keep the door closed. We giggled as I went to leave, but I definitely sensed she was uneasy about the whole thing.”If you decide not to watch, then you can always look the other way”, I said, grinning from ear to ear. We were standing close together and she leaned in to whisper something. “Jackie also played with me when we read her porn”. Obviously she had either guessed, or Jackie had told her about us…
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  62. uinhqyq
    uinhqyq says:

    Cмотреть новая серия онлайн, Озвучка – Перевод Амедиа, лостфильм, AlexFilm, BaibaKoTV Игра в кальмара 2 сезон 1 серия 257 причин, чтобы жить, Острые козырьки, Убивая Еву, Убийства в одном здании, Гранд, По ту сторону изгороди – все серии, все сезоны.

  63. salamandrine3282846
    salamandrine3282846 says:

    ” She then asked if I knew how much the donation was and I replied, “Oh yea,” and she followed by telling me the address, explained it was an apartment building, told me where I should park, and gave me the apartment number, saying she would have to buzz me in. Victoria also asked me to call when I was on my way, and I told her okay expressing my excitement to meet her. She paused briefly and replied, “Me too, see you Friday,” and told me to be sure to call. I said, “Okay,” and we hung up. When Friday came around, I was nervous but excited too, and as I headed out, I gave her a…
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  64. ps4 games and
    ps4 games and says:

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  65. Cryptadia4563169
    Cryptadia4563169 says:

    Jason is only ten mouths younger than Paul thirty nine, Ted is now thirty seven, Sam is thirty six, Mark is thirty four and Tony the youngest is twenty eight. All his brothers are fit and muscular. Paul’s brothers and his sisters husbands all called me telling me they could come to help me plan Paul’s birthday, their wives couldn’t. I asked them, keeping my fingers crossed, if it would be okay if they came without their wives. They could tell their wives later our plans for Paul’s surprise birthday party.I called my Master Vincent and told him about my plans about Paul’s brothers and…
    https://telegra.ph/From-Lonely-Housewife-to-Perverted-Slut-Chapter-8-re-posted-10-26

  66. rockad2113216
    rockad2113216 says:

    But I hope you will. You’ve probably seen me before, as our eyes have crossed. Perhaps you even took a second look at me. I certainly took a second look at you. I am writing you this letter, not because I am not man enough to go up to you and talk, but because this is the first impression I want you to have of me. I want you to know right now how much you turn on this stranger you’ve never met.I saw you once, as we crossed paths in the gym. That’s what people do at the gym, I suppose. They gawk at each other, checking out the competition in some cases, eyeing the beautiful bodies passing…
    https://telegra.ph/The-stranger-who-wanted-Her—Part-1-10-26

  67. Belting7090533
    Belting7090533 says:

    My wife and daughter had just left to meet her sister and children for a girls weekend at the beach. I had looked forward to this weekend for a while making sure I left this weekend open for doing something I enjoy but don’t get to do enough of. Over the past couple years I have found myself enjoying the company of men just as much as I do women but my busy life only allows me play with my new found partners when I can sneak a quickie in when the wife works late or find an excuse to stay out late on weekends. Shortly after getting brave enough to meet strangers in hopes of getting lucky I had…
    https://telegra.ph/Room-Service-Ch-1-10-26

  68. Deirdre Sharplin
    Deirdre Sharplin says:

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  69. Enthalpy8370334
    Enthalpy8370334 says:

    “You’re killing me Lilly.” I looked down at myself and blushed, “Sorry, my aunt.” He grabbed my wrist and pulled me back into the bed, pulling the covers back over me, “Yes, I’m well aware of your aunt’s motives.” I smiled and snuggled in noticing the purposeful distance between Damien and I. I sighed and lifted my head on my arm to look at him, “You’re making the Lycan sleep outside?” He snorted, “No, they prefer it out there. You seemed to be having a good time though.” I nodded, “Yeah, they are really funny about certain things.” “For example?” I ignored the…
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  70. ZetanChamp7686313
    ZetanChamp7686313 says:

    My torso leaning against his bare skin, there was a warmth radiating all through my body and I wasn’t sure whether that was a physical warmth or an emotional warmth. It felt vulnerable though, way too vulnerable. So I escaped his embrace and sat up straight, shaking my head. ‘Are you going to bottle feed me?’ I asked, part of me hoping he’d say yes, part of me was curious and yearning for that warmth I felt just now, but another part of me was confused, grasping at straws trying to understand. ‘What are we doing, daddy?’ It must have been the confusion that made me call him daddy again, the…
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  71. SeowLutose2150652
    SeowLutose2150652 says:

    Sky’s clit-dick pulsed against mine. I gasped, realizing my daughter had climaxed, too.The incestuous mix of our seed flooded Lupita’s writhing cunt. Her pussy sucked at us while the pleasure slammed through my body. Waves of bliss joined the ecstasy, washing out of my convulsing cunt. I trembled, my nipples brushing Lupita’s.”¡Si!” gasped Lupita. “You two hermafroditas are cumming in me.””Futas!” groaned Sky. “We’re futas!”The MILF just moaned, her cunt going wild around my dick. Her pussy milked me, working out every drop of cum that I had in my ovaries. My orgasm hit that wild peak….
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  72. Blattoid2972321
    Blattoid2972321 says:

    I tell you beg me for it and you softly say “Please give it to me”. I tell you louder and you say “Please let me suck your cock”.On the video screen, some chick is sucking a guy’s dick on a couch. I grab a fist full of your hair and turn your head towards it. “I want you to suck my dick like that depraved little slut on the screen…you got that?” I tell you and you nod obediently. You open your mouth and I shove my cock in as deep as I can. You gag a little bit but you don’t choke. You put your hands up to gain some control but I knock them away and tell you to put them behind your back…
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  73. NuSSa1187459
    NuSSa1187459 says:

    When she got near enough and saw the tears running down her friend’s fair cheeks, she thought her heart would beat out of her chest. Dropping to her knees next to Amy’s bed, she pulled the pliant body toward her in a hug. “Amy? Honey, what’s the matter?” She asked frantically. When the tears wouldn’t stop, she simply held her in her arms and rocked her, whispering comforting words into her red tipped ear.Finally, the tears seemed to subside and Amy hiccupped softly. Pulling slightly away, Nick tried to capture her gaze. “Amy? What’s wrong, sweetie?”At the loving look she received after her…
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  74. Aethrioscope1595208
    Aethrioscope1595208 says:

    Walking on he finally heard, “wait!”Whirling, a scowl on his face, he stated, “why? You obviously wish to perish. You have shown that you want nothing to do with me, therefore why should I help those who do not wish it?”For the first time Ephus saw Artemis shrink back in real fear. “Hum… Ephus. It has been a very long time since I trusted anyone. It is a far more difficult thing for me to do. I…””First you need to realize, I am no longer human. Next, you need to ask from now on, well?” Ephus stated as he crossed his arms over his chest.”Ask? Ask!? I am a goddess I do not ask I…”…
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  75. Citreous5317223
    Citreous5317223 says:

    I undressed to my boxers anddarted across the hall toKathryn’s room. As I slowlyopened the door, I noticed herroom was dimly lit, and I wasshocked at the sight of mysister lying completely naked onher bed.My jaw dropped as I looked overher beauty. She had always beengorgeous, but today she was alldone up and was absolutelystunning.”Mmmm come to bed bro….I cantell you are as excited as I am,”she whispered, as she movedher finger up her slit and pointedto my tented boxers with theother hand. “Take those off… Iwanna see the cock that’s gonnamake me a…
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  76. Kelaya3944706
    Kelaya3944706 says:

    “I felt his cock grow bigger in my hand.It was then that I realized we weren’t alone.”I hope you don’t mind but I invited my friend Deepak over to join us.”Deepak stood up and walked over to us. He was a little taller than Rajeev and had the most piercing blue eyes I have ever seen. He looked lean and muscular and I knew that this was going to be an interesting night.”Uh, sure.” I managed.”I’m Deepak. It’s nice to meet you.”He kissed me on both cheeks.”Why don’t you come over and sit on the couch.”They were being such a gentlemen that it put me totally at…
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  77. Belizard1705156
    Belizard1705156 says:

    It’s been super having someone to open up to with no reservations what so ever. We both have truly enjoyed more than a dozen fuck-fest encounters. I have one more I’ll tell you about. I don’t believe there will be any other disclosures, unless Angie grants me one final fantasy. (But I’m not going to count on it happening) I want to tie her up and take tons of pictures of that body for my personal pleasure. If you’ve followed this story from the beginning, you have a good idea how well endowed my daughter in law is. Damn she’s super, I just wish I had a photo to share with you!Shortly after…
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  78. Raspin485533
    Raspin485533 says:

    Sunny and warm for a change. About six big rigs were pulled into the rest stop, but they rarely delivered on the promise. But there were eight cars parked, staggered along the sidewalk. How many had warm cocks ready to be stroked or sucked. I would find out.I walked into the men’s room. No one. I took out my limp cock and stroked gently. I was not feeling anything really except some boredom and growing lust. In a minute, a tall thin man, older than I was, walked in wearing loose shorts and a jacket. Only three urinals, and he went to the one by the wall. I was stroking, and he made no moves….
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  79. Nightlite8440968
    Nightlite8440968 says:

    I went on having fun at the party, danced with other girls who rubbed their asses against my package, and even though it was a turn on for me, it just wasn’t near as good as what Kate did to me.One thing was crystal clear, though, and I knew my cock agreed with me – I wanted more! When you have that kind of sex that you can’t get out of your head, you know there’s a reason for it. And my reason was that I was meant to get more, no matter how much I already had. Now the question was whether or not Kate already left and if she was still here, where I could find her.It was getting early…
    https://nightlite8440968.wordpress.com/

  80. QuiqDolose2940745
    QuiqDolose2940745 says:

    i got out of bed and said “baby?” when i walked out are room there was a bag packed and harvey was by the door i said “hey babe where are you going?” harvey looked at me and said “leon im sorry i dont love you anymore” (these words felt like i just been cut with the sharpest knife) i looked at harvey and said “what” and started breathing heavey and started crying really hard harvey said “im sorry im leaving you” harvey opened the door and picked up his bag i ran to him and said “harvey please dont leave me i love you please dont go” harvey looked at me and said “i have to” and left closing the…
    https://quiqdolose2940745.wordpress.com/

  81. Sobie6366586
    Sobie6366586 says:

    My school was many miles away and we couldn’t get together every weekend, but we did the best we could. This also was the weekend of a popular rival football University.Some girls in her dorm had been doing a number on her, sand-bagging our relationship. They would joke and make statements to her that I must be enjoying myself cheating on her miles away at my school. At this time, I believe they carried it a little too far, but I found out too late to do any good. Someone had a couple of close high school friends that were aiding them in their plan. Pictures would be taken around my school…
    https://sobie6366586.wordpress.com/

  82. Dustbunny2115321
    Dustbunny2115321 says:

    During the summer months, he finds it too hot for his liking and leaves it for me to use as I please. Let me show you some pictures,” he said as he worked his phone with one hand while his other was busy pleasuring my wife. She was far too preoccupied to look at pictures, but I saw that it was a beautiful, six-bedroom home directly on the ocean. Balconies from every bedroom overlooked the white sand beach and boat dock that moored several boats, including a thirty-foot cabin cruiser. “There is shuttle service to the main island ‘on demand’, where you may want to visit the shops and restaurants…
    https://dustbunny2115321.wordpress.com/

  83. vertebral7120399
    vertebral7120399 says:

    “”One thousand,” Jane said as she stepped naked from her shoes and clothing, “Guineas.””A bargain,” Lord D smiled and he grasped Jane around her waist and pulled her to him.He pressed her against the wall beside the door frame. His lips found her lips. His tongue flicked around her teeth. He kissed her neck and then with no further ado he stooped slightly, he aimed his rampant penis at her quim and he straightened, forcing his member firmly up into her womb.”My lord!” Jane cried as he ripped her poor defenceless maidenhead away as he possessed her.”What say you sweet Eliza…
    https://vertebral7120399.weebly.com/

  84. jj7napoo5131778
    jj7napoo5131778 says:

    I blinked, just to be sure. The other set of eyes didn’t blink back. “Tell me about it,” future me replied. “I can’t decide which experience is weirder; doing this for the first time or doing it again from the other perspective.” I knew it’d been ridiculous to blow my entire paycheck on a black-market time-jump, especially considering unauthorized time travel was a level 2 offense, punishable by up to 20 years. Even a small jump like this (which only allowed you to go about a week maximum into the future or past and which pulled you back automatically after about 6 hours) was a serious…
    https://jj7napoo5131778.weebly.com/

  85. Sandra Siminski
    Sandra Siminski says:

    An impressive share! I have just forwarded this onto a colleague who had been doing a little homework on this. And he in fact ordered me dinner because I discovered it for him… lol. So allow me to reword this…. Thank YOU for the meal!! But yeah, thanks for spending the time to discuss this topic here on your web site.|

  86. quixotism3652634
    quixotism3652634 says:

    ’ Just in case, let me give you a quick explanation. The original gloryhole was an opening in the wall of a video viewing booth at adult bookstores. Men would watch for couples entering the booth next door, and they would put their hard peckers through the opening to be sucked by the woman anonymously.”Yvonne took a deep, ragged breath…seeing the perverse imagination of Duane at work behind this setup. Lori and Theresa looked like they were in shock, Diane just kept staring at the cops.Carson continued: “Now days, a gloryhole is any situation where a woman sucks and fucks a man in a…
    https://quixotism3652634.weebly.com/

  87. mildewed6077352
    mildewed6077352 says:

    He sipped his drink and his free hand was massaging the bulge in his pants. But the ‘oh, my god’ reaction was how he was framed in my vision. I saw him framed between my spread knees and thighs, my heaving breasts, and my hands stroking vigorously at my dripping pussy.With his eyes on mine, I gasped out to him, “Yours, Sir … all yours …” My head dropped back to the top of the table, my butt raised up as my hand jammed three fingers into my pussy and curled one up to contract my g-spot. I exploded and cried out.It was minutes before I finally opened my eyes, again. My breathing still ragged…
    https://mildewed6077352.weebly.com/